Seminário termina com reflexão sobre a história e a expansão do Carnaval
Seminário ‘Carnaval, que festa é essa?’ termina com reflexão sobre a história e a expansão do Carnaval protagonizado pelas escolas de samba
Terminou na noite de ontem o seminário ‘Carnaval, que festa é essa?’, realização do Centro Cultural Banco do Brasil, em parceria com o Ministério da Cultura, que possibilitou, desde maio, uma reflexão sobre temas variados, com a participação de nomes como Carlos Lessa, Rosa Magalhães e Nei Lopes. O último encontro, intitulado ‘Carnavais, malandros e heróis’, inspirado numa obra do antropólogo Roberto DaMatta, contou com o prestígio de Rosa Maria Araújo e Maria Laura Cavalcanti, mediadas pelo jornalista e curador Aydano André Motta.
A historiadora e presidente do Museu da Imagem e do Som (MIS), Rosa Maria Araújo, abriu a noite analisando as dicotomias descritas por DaMatta em seu livro. Para início de conversa, explicou que, em razão de o Carnaval estar atrelado ao samba, as escolas surgiram em áreas marginalizadas da cidade. Assim, logo conheceríamos a figura do malandro, personagem ora visto como herói, ora como indivíduo à margem das normas impostas pela sociedade.
Acompanhando a linha de raciocínio da autora (com Sérgio Cabral) de ‘Sassaricando’, o mediador trouxe à memória uma cena descrita pelo então colunista do Jornal do Brasil Tutty Vasques: “Ao ver o banqueiro do jogo do bicho Castor de Andrade ao lado de Boni, à época vice-presidente da TV Globo, num desfile da Mocidade Independente, o cronista escreveu que a Avenida era o lugar onde o Boni parecia um bicheiro, e Castor, um executivo poderoso da televisão”. Em seguida, Aydano passou a palavra à professora da UFRJ, Maria Laura Cavalcanti.
Estudiosa da folia de Momo, ela, que escreveu o livro ‘Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile’, preferiu inserir no bate-papo o momento atual das agremiações. Entusiasmada com a capacidade de se reinventar das escolas de samba, Maria Laura salientou alguns marcos: “A construção do sambódromo, em 84, e, pouco depois, a criação da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), com a finalidade de organizar os desfiles a partir de 85, foram cruciais para a expansão do evento. Se analisarmos mais profundamente e pensarmos no mecanismo de mérito e performance determinado pela competição, perceberemos a influência destes acontecimentos em nossa sociedade, haja vista o estabelecimento de valores democráticos e integrativos”.
O lado comercial do espetáculo na Marquês de Sapucaí, claro, também entrou em pauta. Pegando como gancho a informação de Aydano, que fez uma comparação entre os desfiles na famosa Passarela do Samba e os que se dão na Av. Intendente Magalhães, Rosa Maria foi pragmática: “A fantasia da porta-bandeira Selminha Sorriso, na Beija-Flor em 2007, custou R$ 100 mil, enquanto cada escola do Grupo E, naquele mesmo ano, recebeu R$ 25 mil de subvenção pública, porque, sejamos práticos, quantas costureiras são contratadas para fazer as fantasias de uma pequena agremiação? Quantas são necessárias para o Carnaval de uma escola do Grupo Especial? Quantas pessoas venderão milho em Campinho? Qual o público dos desfiles de lá? O número dos que enchem as arquibancadas da Sapucaí nós sabemos”.
Para encerrar, Maria Laura comentou a respeito de mudança prevista no processo de evolução das escolas de samba: “Atualmente elas somam 73. A ideia do governo é ligar o sistema de blocos de enredo e suas quatro divisões ao sistema das agremiações, limitando estas a 66 daqui a 3 ou 4 anos. A meu ver, se formalizaria um grupo, eu diria, preliminar ao das escolas de samba, o que é importante para a formação destas que, sem exceção, visam ao Grupo Especial”, concluiu ela, ressaltando novamente o movimento de expansão do Carnaval ao informar ainda que, em 1983, existiam 43 escolas.
Aydano alertou para o potencial de polêmica do corte das escolas. “Quem vai decidir qual escola sobrevive? Quais serão os parâmetros?”, ponderou. Maria Laura observou o salto no número de escolas ocorrido em 2007. Rosa Maria lembrou que é preciso considerar a megalópole que vive em volta de escolas e blocos. “Não é meramente um debate sobre ordem, mas há questões a serem tratadas em nome da população”.