Sinopse da Independente
GRES INDEPENDENTE DE
SÃO JOÃO DE MERITI
CARNAVAL 2011
ENREDO
REFAVELA
ENREDO, PESQUISA, ROTEIRIZAÇÃO
HELIO PORTO E AMARILDO DE MELLO
CARNAVALESCO
ROBSON GOULART
PRESIDENTE
MONOEL HONORATO
APRESENTAÇÃO
O Enredo do GRES Independente de São João de Meriti para o carnaval 2011 se constitui num olhar sobre um passado recente de muitas lutas e resistências políticas e culturais, um presente de angustias e indagações e um futuro marcado pela esperança de uma vida melhor. Falaremos das favelas cariocas, através do desenvolvimento de nosso enredo quando, apresentaremos de forma geral uma narrativa baseado em fatos do cotidiano de uma grande parcela da população do Brasil. Levar a Favela Carioca para a avenida é, sobretudo combater o preconceito, a discriminação e um certo senso comum que já tem anos.
OBJETIVO
Nosso objetivo é mostrar, que a Favela não é o mundo da desordem, e que sua idéia de carência “comunidades carentes” denominada, pela falta de elementos básicos no cotidiano do ser humano, é absolutamente insuficiente para entendê-la em seu contexto e importância na fotografia brasileira.
Núcleos de mistura de raças, diversas influências culturais e costumes, as favelas no decorrer de sua historia lutaram e resistiram contra regras elitistas pré estabelecidas e contra a má vontade política foram se estruturando e traçando um perfil próprio, impulsionados por ONGs, associações, grupos de caráter sócio-político ou cultural.
As favelas criaram estilos próprios na arte, na dança, no teatro, na música, no esporte ou outras manifestações. E é esse novo objetivo central neste enredo; apresentar um desfile onde a favela e os “favelados” serão mostrados a partir de seu cotidiano, suas manifestações sócio-culturais-esportivas, enfim, como uma sociedade vencedora que através de seu jeito, suas culturas e suas lutas, hoje vêm se impondo.
Objetivamos com o esse enredo contribuir de forma substancial para que a palavra “favelado” não seja mais usada entre aspas, algo destacado em todos os aspectos, mas sim, como uma denominação que seja objeto de orgulho e não alvo de preconceito.
Em 2011, vamos falar de uma nova Favela – a Favela que dita moda, que tem estilo próprio, que pensa politicamente, faz arte e que se impôs e exige respeito. A Favela vista de uma ótica positiva e sublimadora de suas raízes.
A REFAVELA!!!
DESENVOLVIMENTO DO ENREDO
1º MOVIMENTO – “Vá as favas” Meu nome é Favela – A nova paisagem que surgiu na contra-mão da modernização – A Dualidade, O Progresso e A Favelização.
O meu nome é favela, nasci a mais de um século na Cidade do Rio de Janeiro, luto a anos para adquirir cidadania brasileira. Falar de favela a partir do seu surgimento é falar da minha, da sua história, enfim da história do Brasil de 1900 para cá.
As contradições e os conflitos na cidade sempre foram muitos. O poder republicano, em geral exercido pelos brancos, desejava limpar a cidade, eliminar os focos de doença que atingia todos de forma indiscriminada. Higienização era a palavra de ordem do poder republicano. Os pobres, em geral ex-escravos recém libertos, respondiam com manifestações e revoltas, onde se destacava a revolta da vacina.
Eles derrubaram os cortiços, habitações coletivas utilizadas pela população pobre e negra da cidade, e vacinaram muita gente na marra, na força. Esse processo resultou no crescimento da população pobre nos morros, charcos e demais vazios em torno da cidade, que nessa época era capital federal.
Eles desejavam construir uma cidade moderna e européia, os pobres não cabiam dentro dela. A resposta para a sobrevivência foi a criatividade política, cultural e capacidade de luta e organização e a resistência. Para eles era: “Bota Abaixo” e “Art Nevour”, para nós “Subir os Morros”, na busca por moradias cidadania e direitos e assim nascia a Favela com a arquitetura no estilo “Art Zincour”
2º MOVIMENTO – “Eu sou o samba… a Voz do morro sim senhor. Venho para mostrar o meu valor…”
A Favela é um lugar de onde se expressam diversas manifestações culturais. A partir da década de 20, já se ouvia um barulhinho bom, letrado, ritmado, cadenciado, enfim, algo que forma intensa e extensa representava um pouco do clamor e das angustias, mas também da felicidade e a alegria de um povo.
O samba surgiu nos morros, nos subúrbios cariocas, enfim nas regiões pobres da cidade. Essa expressão cultural tinha força de massa, em tempos áureos invertia valores e coloca em suspenso normas de comportamentos da vida cotidiana. Muita sátira, ironia, brincadeira, enfim essas eram algumas das formas encontradas pelas classes populares de quebrar regras, reivindicar e ironizar as autoridades.
O samba se constituia numa expressão musical criativa de uma parcela da população da cidade. O samba ajudou a desenvolver o pensamento crítico, construir nas pessoas um comportamento audacioso, gerador de iniciativas sociais, culturais, ambientais, fortalecendo a idéia de união e de construção de uma consciência coletiva junto à população de favela.
O samba nesse período se constitui num instrumento importante de aglutinação das pessoas, de construção de uma identidade coletiva e de uma relação.
Esse gênero musical desbravou fronteiras e ganhou o mundo. Caiu no gosto popular, às favelas foram formando as suas agremiações e o samba passou a ter instituição, o lugar que guardava a produção musical e a cultura do lugar que se manifestava em forma de Escola de Samba no desfile principal.
Mangueira, Deixa Falar, Portela, Unidos da Tijuca, são Escolas de Samba que surgem entre o final da década de 20 até a metade dos anos 30, essas agremiações se formam onde as tradições foram definidas com base em memoráveis histórias, que não podemos afirmar se são memórias de lugar ou lugares de memória.
3º MOVIMENTO – “Daqui não saio daqui ninguém me tira”
Neste setor vamos reverenciar as lutas urbanas desenvolvidas pelos movimentos de favela. As associações de moradores, os movimentos pastorais, os movimentos de esquerda, a federação de favelas (FAFERJ), que foram fundamentais para que a população da favela tivesse assegurado seu direito à cidade.
Algumas favelas não resistiram. Praia do Pinto dentre outras, são alguns dos exemplos de remoção, enfim, foram a baixo. Mas com muito suor, organização e mobilização as favelas continuam no espaço da cidade, o que não significa que fazem parte da cidade formal. A não-cidade para as favelas ainda é uma realidade.
“Ah seu doutor ninguém pensa na gente não. Aqui as coisas só chegam nas eleições, tudo muito pouquinho… parece até água subindo morro.”
Essa fala revela a ausência ou precariedade das políticas públicas desenvolvidas pelo poder público.
Toda vez que há uma tragédia, seja desmoronamento, incêndio ou alguma similar, uma parte da população busca culpar os “favelados”, como se as pessoas vivessem nessas condições por vontade própria. Criminalizar a pobreza é a forma mais fácil de esconder o problema e seu verdadeiro responsável, o poder público.
Moradia digna, escola de qualidade, saúde, saneamento, cultura, trabalho e paz, são os benefícios que nós mais queremos como dizia Gonzaguinha “a vida devia ser bem melhor, e será…”.
Isso é dignidade, cidadania e bem estar social. E os “favelados” muito bem sabiam disso, e já lutavam, brigavam, se organizavam na busca por essa realidade.
4º MOVIMENTO – REFAVELA – Prenúncio de um poeta que anteviu o futuro. “Visto assim do alto, mas parece um céu no chão sei lá…” Isso é já era REFAVELA
REFAVELA é uma releitura, um novo olhar sobre o mundo e o imaginário da Favela Carioca. Um olhar sem preconceito e estigmas, um olhar generoso e criativo, algo que retira do povo da Favela a culpa que lhe é imputada pela pobreza, pelo lugar e pelas formas de vida.
REFAVELA é pensar o futuro considerando o passado, construir formas de transformação do espaço, valorizando as pessoas, suas histórias, fortalecendo a construção de novas dinâmicas sociais, econômicas, culturais, ambientais e educacionais, aonde o espaço vai sendo transformado e todo mundo tenha uma percepção real da integração e da inclusão social.
REFAVELA é o AFROREGGAE – que a partir das atividades culturais, como capoeira, dança, balé, música e etc., une toda a cidade através de conexões urbanas.
REFAVELA é o NÓS DO MORRO – que desenvolve um processo de formação artística para os jovens do Morro do Vidigal para se destacarem nos palcos da cidade e do mundo, na televisão, no cinema, enfim nas artes de uma forma geral.
REFAVELA é o PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO – que prepara os jovens para entrar na universidade, entendendo que o conhecimento é fundamental para o desenvolvimento humano. Não orgulho maior para pai e mãe do que ver seus filhos entrando numa universidade, seguindo um caminho de sucesso.
REFAVELA é o JONGO DA SERRINHA – que através de varias gerações mantém as tradições de uma manifestação cultural, assegurando identidade e compromisso com a cultura popular brasileira.
REFAVELA é a REGINA CASÉ – que através da televisão valoriza a cultura popular de massa que vem da periferia, proporcionando voz e fortalecendo a identidade da periferia.
REFAVELA é a CUFA – Central Única das Favelas e MANGUEIRA DO AMANHA – desenvolvendo atividades sócio-esportivas jogos educacionais mobilizando a juventude, criando alternativas de inclusão positiva.
REFAVELA é LUIZ MELODIA – ele e tantos outros que surgiram da Favela e são motivo de orgulho para milhões de pessoas.
REFAVELA é o FUNK – expressão cultural que mobiliza milhares de jovens em torno de uma música que fala do cotidiano da Favela.
REFAVELA é o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) – intervenção pública que mobiliza um alto volume de recursos do governo federal para obras de urbanização em favelas.
REFAVELA é a garantia de paz e tranqüilidade para as comunidades menos favorecidas.
REFAVELA é um mosaico de colagens de ações comunitárias e de inclusão do cidadão que compõe parte integrante da cenografia de nosso Brasil, que cresce na luta que busca assegurar dignidade e cidadania aos menos favorecidos.
REFAVELA, o sonho que esta virando realidade.
REFAVELA é orgulho de ser FAVELADO