LINS IMPERIAL ENREDO DE 2015
Na tarde de 1 de maio a diretoria da SRES Lins Imperial junto com o carnavalesco LUIZ DI PAULANIS definiu o enredo de 2015.
A logo oficial ainda será divulgada assim como, a data para o lançamento oficial do enredo na quadra.
ENREDO: ” Do Brasil para o Mundo, Nosso Axé: Erva Guiné!!!”
Carnavalesco: Luiz Di Paulanis
S.R.E.S LINS IMPERIAL
CARNAVAL 2015
ENREDO: Do Brasil para o Mundo, Nosso Axé: Erva Guiné!!!
Autor: Luiz di Paulanis
ENREDO: ” Do Brasil para o Mundo, Nosso Axé: Erva Guiné!!!”
Guiné Pipi, Titi, Raiz de Guiné….
São muitos os nomes para um mesmo fundamento.
Os índios já cantavam seus poderem muito antes de aqui chegarem os portugueses ou de
aqui se ouvir o brado dos orixás.
O canto dos espíritos criadores do universo tomou forma e fez surgir o mundo, desordenado
mas firme. Os jaguares ancestrais então vieram e correram pelo mundo, separando a terra das águas e
fazendo surgir as matas de suas pegadas. Com a alvorada da humanidade, coube aos pajés decifrarem a
força do que brotava do chão.
Mais tarde, os Jesuítas trazidos nas caravelas aprenderam os segredos das ervas e,
sabedores da composição das teriagas, passaram a usar a Guiné, fazendo surgir as garrafadas.
Com nosso distanciamento dos saberes indígenas e a força dos traços culturais africanos,
muitos pensam que a Guiné teria vindo com Ossaim nos porões da escravidão. Mas, depois que aqui
chegou, é que o dono de todas as folhas consagrou seu uso a Ogum no Candomblé, e a Oxosse na umbanda.
Foram os ventos de Oya que levaram as folhas para a África, embaladas pelos agudás.
As pretas velhas benzedeiras já sabiam seus encantos, e já livraram do mau olhado, muito
filho de negro e de branco. Muitas mucamas se livraram das alcovas violentas com a “Amansa Senhor”.
Muito negro foi vingado com o pó da raiz.
Pra cada coisa um bocado: pra afastar mau-olhado, pra descarrego, patuá ou infusão, Guiné
traz a chance de cura dos corpos, de cura das almas ou de proteção.
“Quendá, quendá” – Nas festas do interior das Gerais, os mestres de guarda do congado (os
catopés) fazem ecoar o cancioneiro enquanto fazem suas garrafadas – bebidas benzidas pela Virgem do
Rosário, protetora dos negros por esse Brasil a fora. Assim, conseguem a proteção para mais um ano,
pedem a bênção para seus instrumentos, pelas chuvas e por boas colheitas no sertão.
Passeie pelos dias de hoje e pergunte por uma benzedeira, curandeira, pajé ou Yiá. Quase
nunca vai encontrar. As folhas caíram em desuso e, quando não é veneno, é escuso, proibido ou mal-fará.
Mas adentre qualquer terreiro, casa de erva ou cabana de pajelança e saberá de primeira que
os tesouros da terra estão lá pra quem quiser.
Salve a tradição brasileira das benzedeiras e do axé. Salve os donos da terra, o índio, o negro,
o caboclo, o catopé, o segredo das folhas, o amaci e o porrão. Salve a Guiné, que a Lins exalta e pede a sua
proteção!
Luiz di Paulanis
JUSTIFICATIVA
Uma das plantas mais emblemáticas da flora brasileira, a Guiné povoa o imaginário cultural
brasileiro.
Embora muitos pensem tratar-se de uma erva trazida pelos escravos na diáspora, a erva
Guiné é uma planta nativa das Américas, encontrada por quase todas as Américas, onde o clima se coloca
entre temperado e quent. No Brasil, é encontrada em quase todo o litoral, do Piauí até o Rio Grande do Sul.
Sua presença na África, está associada aos agudás – negros que retornaram aos países de onde foram
sequestrados para escravidão, principalmente Nigéria e Benin.
A Guiné é um arbusto lenhoso, chegando a ter até 2m de altura. Apresenta longos ramos
delgados ascendentes e é uma planta aromática, que exala um odor muito forte e nauseante.
Utilizada no combate a fungos, bactérias e vírus, também é considerada anti-inflamatória e
analgésica. A decocção de folhas e raiz, bem como a tintura, são empregadas no combate ao reumatismo,
na forma de fricção. Bebida em pequeníssimas doses, combate a hipotermia. A combustão das folhas
dessecadas produz uma fumaça de cheiro acre, que serve para afugentar mosquitos. As folhas também
entram na composição dos “banhos de cheiro” aromáticos usados pelo povo da Amazônia .
Aqui, seus segredos já eram utilizados pelos índios, que acreditavam que ela servia para
espantar maus espíritos. Buscando sua origem indígena, podemos descobrir que os espíritos ancestrais
caruanas criaram a terra e nela puseram os jaguares ancestrais. Andando pela terra, os jaguares
espalharam os montes de terra, sopraram a vida em todas as suas formas e moldaram também o homem.
Para que este vivesse em correção e tranquilidade, os espíritos criaram os astros para orientá-los como
deuses e deram às plantas segredos, para curá-los e os auxiliar nas poções mágicas.
Mais tarde, os jesuítas apropriaram-se dos conhecimentos tribais e juntaram a Guiné à
receita das “teriagas” (poções que dominavam e que funcionavam como elixir durante as viagens,
amenizando os males da travessia como enjôos, escorbuto e afins).
Dada a dificuldade de reproduzir os potes de louça, as poções passaram a ser feitas em
garrafas e daí, o nome de garrafadas.
As escravas recém chegadas incorporam o uso que os índios faziam da Guiné e seus efeitos
venenosos. Muitos senhores de escravo foram mortos ou ainda “amansados”, com o sumo da Guiné, para
vingar abusos, maldades ou ainda, acalmar a volúpia sobre as carnes escravizadas.
Com o sincretismo, a Guiné foi introduzida nos saberes africanos e passou a compor a liturgia
da umbanda. Utilizada nos amacis, defumadores ou ainda, no abô dos candomblés. Ossaim (orixá dono
das folhas), ao conhecer a Guiné, a coloca sob a influência de Ogum.
Já na umbanda, as matas pertencentes a Oxosse dão a este guia o poder sobre a Guiné. Assim,
passou a ter largo uso dentro daquela religião. É utilizada em sacudimentos residenciais pessoais e
comerciais, em banhos, em vasos como proteção e também é muito utilizada pelos caboclos e pretos velhos
em suas rezas e curas. A Guiné também é receitada, em casos onde haja muita necessidade de descarga
energética, em banhos, que devem sempre ser tomados do pescoço para baixo, exceto quando a entidade
de confiança ou um zelador confiável receitam diferente. A erva também é muito empregada em defumações, com as mesmas propriedades do
banho. O banho de Guiné tem a propriedade de transmutar energias negativas em positivas.
Nos momentos em que retornam para a terra mãe, os agudas levam o conhecimento de todo
o que aprenderam aqui, num exercício de assimilação cultural. Nesse momento é que a Guiné passa a ser
conhecida como se possuísse raizes africanas.
No interior do Brasil, o sincretismo se desdobra e alcança povoados do vale do
Jequitinhonha, onde a devoção visa trazer a proteção dos mártires contra as mazelas que o povo sofre.
Salve Nossa Senhora do Rosário e do Divino Espírito Santo!!! São pelo menos 170 anos em
que os Catopés, Marujos e Caboclinhos percorrem as ruas de Montes Claros, seguindo seus reis e rainhas,
imperadores e imperatrizes, cantando, dançando e louvando seus santos de devoção.
Nesses grupos estão representadas as três raças que originaram o brasileiro. Os Marujos são
de origem europeia e narram as aventuras dos marinheiros descobridores, Os Caboclinhos são os nossos
índios, grupo formado em sua maioria de crianças e falam das brincadeiras dos nossos curumins. Os
Catopés são de origem africana. Nessa versão de Congada, os mestres de catopé preparam a garrafada da
santa. Seja bebida ou utilizada como unguento, serve para dar mais aproximação do fiel a sua devoção.
Nos lugares em que a Medicina tradicional não alcança os qu precisam, muitos dos males são
curados pelas benzedeiras. Espinhela caída, mal-olhado, olho-gordo e inveja são rezados e e afastados
graças à Guiné, arruda e sal-grosso. Uma vez resolvido o problema, figas, patuás e fitas completam a
proteção.
A Guiné também é um dos ingredientes do “Vaso das Sete Ervas” colocado na entrada de
casas e estabelecimentos para espantar maus fluídos, a negatividade.
Erva Titi, Erva Pipi, Guiné pipi, Erva Guiné, Guiné!
Muitos são os nomes, muitas as versões, mais diversos ainda os usos. Assim, a Lins Imperial
escolheu, através desse enredo, demonstrar que até mesmo uma folha nascida nessa terra, pode trazer
uma “colcha de retalhos”, uma enorme diversidade de informações, ratificando a riqueza de detalhes que
cada idéia, fato, imagem, sentido, símbolo ou material pode possuir e contribuir para a definição de toda
nossa cultura, de toda nossa identidade brasileira. Não esqueçamos das sementes plantadas nas tradições
e dos frutos colhidos em forma de conhecimento, valores e samba.
Cheirou a nossa banda!!
Lia Amorelli –
SRES Lins Imperial
Assessoria de Imprensa
RITMO CARIOCA