Império Serrano
FICHA TÉCNICA:
PRESIDENTE – VERA LÚCIA CORRÊA DE SOUZA
CARNAVALESCO – SEVERO LUZARDO
ENREDO – SILAS CANTA SERRINHA
1 CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA – FELICIANO JR E RAPHAELA CABOCLO
BATERIA – SINFÔNICA DO SAMBA, COM 250 RITMISTAS SOB O COMANDO DE MESTRE GILMAR
RAINHA DE BATERIA – PATRÍCIA CHELIDA
COMISSÃO DE FRENTE – 15 COMPONENTES, TODOS HOMENS, SOB A DIREÇÃO DE CLÁUDIA MOTA
ALAS – 25
ALEGORIAS – 4, SENDO UMA, O ABRE-ALAS, ACOPLADA
SAMBA-ENREDO – AUTORIA DE ARLINDO CRUZ, ALOÍSIO MACHADO, ARLINDO NETO, ZE GLÓRIA, ANDINHO SAMARA, LUCAS DONATO E RONALDO NUNES
INTÉRPRETE – PIXULÉ
DIRETOR GERAL DE HARMONIA – COSME MÁRCIO
DIRETOR DE CARNAVAL – PAULO ROBERTO SANTI
2 CASAL DE MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA – MATHEUS OLIVEIRA E MAURA LUÍZA
>>> COMO SERÁ O DESFILE DO IMPÉRIO SERRANO?
(todas as aspas são do carnavalesco Severo Luzardo)
Num episódio relicário, abro as páginas do meu livro de memórias. Sou Silas, menino, de pé no chão, que ouvia com atenção, as histórias do Morro da Serrinha contadas pelos meus saudosos avós. (trecho da sinopse)
SETOR 1: África, berço da negritude da Serrinha
O desfile começa ligando a história do Morro da Serrinha à sua herança africana: “Ao falar em Serrinha, no que pensamos primeiro? No jongo, ritmo trazido de Angola pelos negros bantos e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Daí partimos, com os avós de Silas de Oliveira contando a ele sobre a chegada das tribos bantos, os primeiros a povoarem a Serrinha, pois esta, diziam, se parecia com a África deles”.
No abre-alas, acoplado e com 42 metros, assim sendo, encontram-se tambores de jongo, além da sempre aguardada coroa imperial – símbolo da agremiação -, mas com uma temática afro, diferentemente do que os imperianos estão habituados a ver. E ela, claro, ganhará movimentos.
“Meu trabalho tem uma pegada artesanal e a única maneira de explorar isso, de forma minuciosa, é tendo o tempo a meu favor. Por isso, os 12 bichos gigantes que estão no abre-alas foram as primeiras coisas a serem feitas. Levaram 3 meses pra ficarem prontos. O elefante, por exemplo, irá a 7 metros de altura”.
SETOR 2: Prazer, eu sou a serrinha: Paraíso dos Amores!
Neste setor, o carnavalesco conta o que os negros fizeram após serem libertados. Mulheres viraram amas de leite, vendiam cajus, galinhas; e os homens viraram estivadores do cais do porto, vendedores de peixe, biscates, enfim, se tornaram o que denominou-se escravos de ganho. Tudo isso, aliás, pode ser visto nas obras de Debret. Ele lembra a chegada da Maria Fumaça e conta sobre as horas de lazer dos negros, surgindo assim a escola Prazer da Serrinha
“O segundo carro alegórico está atrelado ao Prazer da Serrinha, a primeira escola de samba criada na comunidade, destacando um de seus mais importantes enredos, ‘ Cais Dourado – A pescaria no cais’, de 1942″. Não à toa, o Pelourinho poderá ser visto na alegoria” (o enredo fazia menções à Bahia, vide os versos abaixo). E o ano, vale ressaltar, é simbólico para a história do Império Serrano, que nasceria em 1947, a partir do descontentamento de alguns sambistas com o comando da Prazer da Serrinha, presidida por Alfredo Costa.
CAIS DOURADO – A PESCARIA NO CAIS**
(Delfino)
No cais dourado
A pescaria tem valor
Bahia, Bahia,
Terra de São Salvador
Fui buscar lá na Bahia
Vatapá de ioiô
Para vender aos cariocas
Na Terra Santa do amor
SETOR 3: Nos terreiros da Balaiada, os festejos da Serrinha
No terceiro setor, a escola apresenta os muitos movimentos culturais da Serrinha, festas como o Banquete de São Lázaro, dado aos cachorros, em homenagem a Obaluaiê; o auto das pastorinhas de Natal; a Festa de Xangô; a procissão de São Jorge; e o nascimento do Império Serrano, na Rua da Balaiada, ou melhor, no quintal da casa de Tia Eulália.
“Deste modo, no carro 3 está a devoção imperiana, com a imagem de São Jorge que, aliás, foi benzida pelo padre Ubiratan de Oliveira. Ele veio ao barracão, a pedido de Dom Orani Tempesta, e ficou impressionado com a beleza da escultura, benzendo a mesma e também toda a equipe do barracão”. E a equipe de Parintins trabalhou forte neste carro, para produzir movimentos importantes.
SETOR 4: Avante, imperiano! A luz de Deus iluminou a Serrinha
Depois que eu parti, fiquei observando de longe a evolução chegar à minha gente. Com os olhos de um menino de quarenta e sete, vi o meu lugar se consagrar como um autêntico reduto do samba. (trecho da sinopse)
No último setor, a Serrinha chega à modernidade, aos tempos de hoje: “Silas vê a Serrinha ganhar um baile charme do Viaduto, por exemplo, percebendo, no entanto, que a negritude da comunidade mantém sua identidade. Ele convoca, então, todos os falecidos baluartes – como eu Molequinho, Mano Décio, Tia Eulália, Aniceto – para uma grande festa no céu, assistindo ao desfile no meio dos anjos”.
O último carro terá as presenças da Velha Guarda Show, de componentes da Ala das Damas e ainda dos 4 filhos de Silas de Oliveira. Nele estará também, como destaque principal, a menina Flora, filha de Arlindo Cruz, como porta-bandeira, que dançará nas estrelas para levar o pavilhão a Silas.
>> Sobre as fontes:
“Além de toda a bibliografia utilizada para a criação e desenvolvimento da sinopse, ressalto a contribuição de Rachel Valença, pessoa de enorme importância no que tange à memória da escola. E lembro também, com muito carinho, os muitos causos, histórias valiosas, que a comunidade me contou ao me ver na porta da quadra. Todos, parece, sentiram uma necessidade muito grande de transmitir suas lembranças, aquela memória afetiva que não podemos encontrar nos livros”.
>>> Expectativa:
“A meu ver, o Império chegou ao ápice. As pessoas estão muito confiantes só de saberem que os trabalhos no barracão foram concluídos uma semana antes do Carnaval e com qualidade. Sequer viram. Quando se depararem com o nosso carnaval, acredito, serão tomadas por uma fortíssima emoção, o que deverá contribuir e muito para um grande desfile”.
>>> FAMÍLIA DE SILAS DE OLIVEIRA
Ala Família Oliveira
Netos, bisnetos e sobrinhos irão desfilar na quarta ala, que contará também com familiares de outros baluartes. A fantasia será uma tradicional roupa de jongo.
*** “Já os 4 filhos desfilarão no último carro alegórico.
Silas deixou 4 filhos: Elenice de Oliveira, 61 anos; Silas de Oliveira Junior, 52 anos; Vera Lúcia de Oliveira, 68; e José Mário de Oliveira, 48. A mãe, Elane de Oliveira, faleceu em 2004, aos 78 anos: “Acho que foi forte demais pra ela a emoção causada pela reedição, em 2004, de Aquarela Brasileira. Ela concedeu muitas entrevistas, participou como pode, mas não se sentiu firme o suficiente pra desfilar, ficando em casa com uma acompanhante. E uma semana depois do carnaval, ele nos deixou”, declarou Elenice.
E ela contou ainda: “Nossa concentração será na casa da minha irmã, na Penha, onde mamãe viveu seus últimos dias. tem uma energia forte, importante, acredito. E sairá uma turma boa de lá. No mais, contaremos com a torcida que virá lá de cima. Dará tudo certo”.
>>>IMPERIANO DE FÉ
O sambista Ivan Milanez, que recentemente foi atropelado quando ia ao Pagode da Tia Doca, sábado provará que tudo não passou de um susto. Ele homenageará o amigo Silas de Oliveira, no ano de seu centenário de nascimento, durante o desfile do Império Serrano. E vejam só: Milanez não desfilará num carro alegórico, não. Ele estará na histórica ala Sente o Drama, a pioneira na arte do passo marcado no carnaval das escolas de samba, revivida especialmente para contar o enredo ‘Silas canta Serrinha’.
>>> IMPÉRIO SERRANO APOSTA EM COMISSÃO DE FRENTE EXPERIENTE
Comandada por Claudia Mota, a comissão de frente do Império Serrano contará com 15 componentes, todos homens e com experiência no Carnaval: “Entre eles há artistas, passistas, bailarinos. Parte já trabalhava comigo e outros vieram de outras comissões, passando por uma espécie de audiência”. A linguagem utilizada para a apresentação do quesito, segundo ela, será bem visual, com muitos passos africanos para exprimir o culto à natureza: “Serão deuses africanos com um visual impactante e um elemento surpresa que estará, atenção, na roupa”. Claudia Mota há 11 anos produz comissões de frente. Ela realizou trabalhos para escolas como Unidos da Tijuca, União da Ilha, Viradouro e São Clemente.
>>>ALA SENTE O DRAMA:
A Ala Sente o Drama – a primeira de passo marcado – foi fundada em 1962, segundo Jamelão, por ele (que virou mestre-sala), Jorginho do Império e Careca, que ficaram conhecidos como ‘Os Três Pelés’.
Este ano, ela estará no terceiro setor, é a ala de número 18.
“Éramos passistas e cada um tinha a sua patota. Um belo dia, durante um encontro no ‘museu’ – como chamávamos o quarto do Jorginho, onde nos encontrávamos pra colocar o papo em dia, jogar e, claro, falar de samba -, resolvemos juntar nossas patotas e lançar uma ala de passo marcado, só com homens”, contou Jamelão.
E mais lembranças dos velhos tempos da Sente o Drama: “Ela marcou a história do Império, não houve igual. E num Carnaval com um enredo em homenagem à Serrinha, não podia mesmo mesmo deixar de ser lembrada. Nós éramos realmente incríveis. Tanto que fomos proibidos de concorrer ao troféu Estandarte de Ouro. Inventávamos muitos passos. Éramos como um time de nado sincronizado, só que com 40 componentes”, disse Mauro Joinha, 60 anos, que também desfilará este ano.
O passista Gabriel Castro, que está ensaiando a ala, falou mais a respeito: “Como se trata de uma ala antiga e muitos componentes que dela participaram hoje sequer desfilam, 90% de seus integrantes são novos. Assim, unimos uma nova geração, com jovens, aos mais velhos, que fizeram com que a ala marcasse a história não só do Império como do Carnaval. À frente do grupo mais jovem, inclusive, ficará o passista Tuan Mateus, de 15 anos. Ele será o único menor de idade e o fio condutor de toda a apresentação. E por falar nisso, importante saber ainda que 70% da coreografia que exibirão na Avenida será uma releitura do que a ala, em seus áureos tempos, já mostrou.”
>>> PATRÍCIA CHELIDA, A RAINHA DO AGOGÔ
Estreando como rainha de bateria do Império, Patrícia Chélida, que no Carnaval passado desfilou como musa da escola, o mais simbólico instrumento para a verde e branca, o agogô: “Gilmar me ensinou a base e os meninos (ritmistas) tiveram paciência pra me passar outras instruções ao longo dos ensaios. Me garanto mesmo é no chocalho, mas não farei feio com o agogô, não. Só ainda não consigo sambar e tocar ao mesmo tempo.”
Patrícia, vale informar, tem um atelier, sendo a responsável não só pela confecção da própria fantasia como de outras musas e rainhas de bateria: “Estamos fazendo, por exemplo, a da musa Vanessa Franklin, da União do Parque Curicica, a da musa Dani, do Salgueiro, a da rainha de bateria Alessandra Matos, da Alegria da Zona Sul. Antes fazíamos fantasias para alas também, mas agora nos dedicamos apenas às de luxo. Fazemos também as de composições de carros alegóricos”.
O Chélidas Atelier, situado na Penha Circular, tem 8 anos, e Patrícia não dá apenas nome à casa. Ela também coloca a mão na massa, ou melhor, na agulha e no lápis: “Eu contribuo na criação e na confecção propriamente dita, junto a três parceiros: Wagner Leocádio, Michele Cristina e Sidney Barros. Outros 6 ajudam no acabamento e nas miudezas. E contamos ainda com o trabalho precioso de nossas costureiras”.
Sobre a própria fantasia, faz mistério: “Ela terá alguns efeitos bem bonitos e será comportada”.
Patrícia também desfila, como musa, na Unidos da Tijuca, há 15 anos.
>>> BATERIA:
A Sinfônica do Samba contará com 250 ritmistas, informou Mestre Gilmar.
Em virtude do décimo perdido no carnaval passado, quando os jurados alegaram problema nos tamborins, foi dada maior atenção ao naipe e também às caixas: “Inovaremos sem correr o risco de prejudicar a escola, porque sabemos que um único décimo pode nos tirar o título”.
Ainda de acordo com Gilmar, a bateria manterá a característica da girada de três, porém esta será realizada de uma forma diferente: “As caixas, que rufavam duas vezes, continuarão seu toque direto, sem rufar, deixando que apenas os surdos de primeira, segunda e terceira girem. Além disso, os tamborins farão um pequeno desenho pra chamar os agogôs, cuícas e chocalhos”.
Mas as novidades não param por aqui, não. A bateria do Império realizará 4 bossas, sendo uma coreografada e uma de grau maior de dificuldade, que permitirá ouvir todos os naipes, logo na cabeça do samba.
Diego Mendes