Confira a sinopse do enredo da Independentes de Olaria para o carnaval de 2023
ARGUMENTO
Antes disso, e para além…
É lançar o olhar em direção à uma África longínqua ao evocar a presença de velhos sábios feiticeiros – ou ainda; ancestrais, anciões e griots –, que ao repassarem os seus conhecimentos através da tradição oral às suas comunidades eram como verdadeiros guardiões, pilares para a transmissão e perpetuação das riquíssimas “histórias míticas africanas” por lá chamadas de “Itãns”. Estas histórias, contadas e recontadas de geração a geração, fixaram-se mais tarde tanto na literatura verbal, quanto se tornaram verdades pulsantes, mesmo que ainda misteriosas, em seus cultos, rituais e religiões.
Um desses contos que não se perdeu com o tempo e chegou ao nosso domínio trata do episódio no qual “Oxum deita-se com Exu para aprender o jogo de búzios”, ponto de partida do nosso carnaval. A narrativa explana de forma clara o “triângulo central” de entidades principais do sistema divinatório: Orunmilá, Exu e Oxum. Incorporado no terreno ritualístico dos povos iorubás, o merìndílogun passa a ser oficializado como uma das práticas fundamentais de suas religiões: estava cimentada na África o canal de comunicação entre o Orum e o Ayê!
Séculos transcorreram…
Na travessia da Calunga, uma história que nos une eternamente enquanto dor e delícia. Chegam em massa corpos violentados, arrancados de suas terras-mães. Despachados em solo brasileiro, mais especificamente no Recôncavo Baiano, aportam os primeiros iorubás, na aurora do século XIX.
Junto ao corpo de homens e mulheres comuns que vieram acorrentados nos tumbeiros, também, em quantidade, estavam reis, rainhas e sacerdotes. Esta gente resiste à aniquilação de seu povo, hábitos, costumes e tradições ao estabelecer na Bahia os modelos tradicionais possíveis das casas de culto de seus territórios natais. Neste quadro, fazemos justa e honrosa menção a Rodolfo Manoel Martins de Andrade, o Bamboxê Obitikô, uma das primeiras e das mais relevantes figuras do Candomblé brasileiro ao dominar e difundir a arte da fala com os ancestrais através do “tabuleiro divinatório”.
Além da comunicação com o sagrado, o búzio é o instrumento físico e espiritual que faz toda a energia de uma “Casa de Axé” circular. Desde o contato com os orixás, passando por cerimônias e rituais de iniciação, até às oferendas e obrigações solicitadas, tudo na vida do Ilê Axé passa pelo jogo de búzios, pela caída de seus 16 odus e as interpretações de seus caminhos.
E assim, entre a metade final do século XIX e todo o decorrer do século XX, o Candomblé se espalhou Brasil afora. A matriz iorubá-nagô hoje tem muita força em regiões como o Rio de Janeiro; tal como a prática oracular do jogo de búzios acompanhou esta rota, tornando-se a principal técnica de adivinhação, cruzando até mesmo as fronteiras da religiosidade.
Hoje é possível ver por todos os cantos “Joga-se Búzios!” em cartazes ou grafites dos mais variados tipos, comercializando a arte ancestral da divinação. Quem nunca quis tirar a sua sorte e saber dos seus caminhos? São muitas as perguntas ontológicas que costumeiramente fazemos ao jogo, pois elas habitam o campo de nossas angústias e de nossas esperanças.
Certos de que esta força expressiva da resistência afro-brasileira venceu, vamos comemorar contando e cantando a história do Merìndílógún.. Aproveitando o momento oportuno, ao final perguntamos aos búzios:
O que será da Olaria nesta folia?
“Àláàfiá Méjì!” Caminhos abertos!
SINOPSE
Em solo africano, berço iorubano
Velhos sábios feiticeiros, os donos da palavra sagrada,
Contavam que Orunmilá, o Senhor do Destino
Era o guardião do segredo dos búzios e da arte da adivinhação.
Para manter o contato com a humanidade
Orunmilá repassa os ensinamentos do jogo a Obatalá.
Ler o destino muito interessou Oxum,
Que foi em busca de sua ambição
Os saberes do Merìndílógún
Até que ao banhar-se em um rio
Obatalá despiu-se de suas vestes
Exu, sorrateiro, pegou suas roupas e partiu,
O Senhor dos Panos brancos estava nu!
Foi então que Oxum propôs uma troca:
Devolveria suas vestes e teria o mistério dos búzios.
Encontrou Exu numa encruzilhada
O seduziu a fim de conseguir as roupas
E prontamente cumpriu sua missão
Ganhando a recompensa prometida
E assim o Merìdílógún foi disseminado aos povos d’África
A fonte suprema de comunicação espiritual
Àquele que liga os mistérios do Orum e do Ayê
A fala dos ancestrais!
Mas no caminho da Calunga,
A travessia era um mar sem fim de dor
Também tinha coroa quem por aqui atracou
Sacerdotes, reis, rainhas…
Salve Bamboxê Obitikô!
Fundaram em solo baiano as primeiras Casas de Axé
Mantendo a tradição iorubá-nagô
Que formaram as raízes do nosso Candomblé.
Hoje espalhado Brasil afora
Os búzios ainda são resistência
Através de mãos autorizadas,
São 16 odus que direcionam ao consulente
Rituais, iniciações, boris, ebós…
Tudo passa por suas caídas.
E entre perguntas e respostas, o oráculo se popularizou
“Joga-se búzios” está por toda parte
Muitas são as finalidades: trabalho, dinheiro, saúde, amor…
Ora caminhos abertos, ora caminhos fechados… o que será?
Busca-se sempre uma mensagem!
Consultando o seu destino,
Olaria quis saber a sua sorte!
No jogo, não deu outra: “Àláàfiá Méjì!
No carnaval de 2023 a Independentes de Olaria embarca no universo do Merìndílógún, “o jogo dos 16”, que no cruzar do tortuoso Atlântico Sul ficou conhecido como “jogo de búzios” por aqui. Debruçar-se sobre este assunto é tratar de um dos elementos oficiais que constituíram a religiosidade afro-brasileira, sobretudo a do Candomblé.
É chegada a hora do Lobo Forte! Alex Carvalho, Caio Cidrini e Felipe Costa
Alex Sandro Gardel
ASCOM Independentes de Olaria