“Enquanto a Onça não comer a Lua”:
“Enquanto a Onça não comer a Lua”: conheça detalhes da exposição ANTROPOCRUZO, que leva a construção do desfile de 2024 da Grande Rio para a cidade de Nova York
ANTROPOCRUZO é o título da mostra organizada pelo Departamento de Artes e Design da PUC-Rio enquanto parte dos eventos paralelos da exposição “Crafting Modernity: Design in Latin America”, em cartaz no MoMA, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Na mostra, realizada na galeria Saphira & Ventura, podem ser vistas fantasias das composições teatralizadas e fragmentos da releitura do Manto Tupinambá que compuseram o último carro do desfile de 2024 do GRES Acadêmicos do Grande Rio, “Nosso Destino é ser Onça”, idealizado pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Nas palavras de Bora, as peças exibidas são o produto de um sem-fim de diálogos, técnicas, colaborações e experimentos:
“Desde 2020, a Grande Rio organiza oficinas em parceria com a EBA-UFRJ, a PUC-Rio e o IFRJ. Nessas oficinas, estudantes de diferentes cursos podem vivenciar o dia a dia de um barracão. No pré-carnaval de 2024, as oficinas versaram sobre as técnicas e simbologias que envolvem as memórias e os fazeres do Manto Tupinambá, algo muito importante para a compreensão de “Meu Destino é ser Onça”, a narrativa mítica do escritor Alberto Mussa que inspirou o enredo da Tricolor de Caxias.” – explica o artista.
De acordo com Gabriel Haddad, para a confecção do enorme manto alegórico, peça que girava no último carro do cortejo, fundamental foi o diálogo com Célia Tupinambá, artista e ativista que faz do manto a sua caminhada:
“Equipes da PUC-Rio documentaram as técnicas ancestrais de confecção do manto, na Serra do Padeiro, na Bahia, em conversas permanentes com Célia, que visitou o barracão da Grande Rio, ainda em agosto de 2023, e participou do desfile, como convidada do último carro. Esse processo de documentação de tecnologias ancestrais foi conseguido graças a essa parceria. No barracão da Grande Rio, no verão de 2024, dezenas de estudantes puderam conhecer os ensinamentos de Célia e desenhar, com as suas mãos, a construção coletiva que agora está exposta em Nova York. Há dimensões simbólicas e pedagógicas muito fortes.” – conclui Haddad.
A mostra é marcada pela interatividade: os diferentes módulos de visitação foram pensados por estudantes de pós-graduação da PUC-Rio que desenvolvem pesquisas em Artes e Design, havendo, por exemplo, sensores de movimento que acionam sons ligados ao universo temático do desfile. Os longos vídeos exibidos em telas e projeções detalham o processo de construção das fantasias e do manto do último carro, intitulado “Enquanto a Onça não comer a Lua”. Os aderecistas-chefes desse carro, Sophia Chueke e Theo Neves, são jovens estudantes da Escola de Belas Artes da UFRJ e, o dado mais interessante, ambos oriundos de oficinas realizadas nos anos anteriores. Essas oficinas, lideradas pelos professores Desirée Bastos (EBA-UFRJ), Nilton Gamba (PUC-Rio), André Wonder (IFRJ) e Flávio Sabrá (IFRJ), já levaram centenas de estudantes de diferentes esferas do conhecimento para o interior do barracão caxiense. Chueke defende que “as oficinas são fundamentais para possibilitar experimentações integradas com os saberes e as lógicas da adereçaria de carnaval. Um intercâmbio muito rico.”
Outro aspecto a ser comentado é que a exposição, assim como a narrativa do desfile mencionado, aponta para o futuro. Um desdobramento da materialidade que desfilou na Sapucaí é a confecção de bolsas a partir dos tecidos e demais componentes plásticos que vestiram os componentes do carro. Um processo de desconstrução e transformação em algo novo, muito condizente com as ideias de sustentabilidade e “lixo zero”. Os protótipos dessas bolsas, não-comercializáveis, são apresentados como exemplos do contemporâneo design brasileiro. Para Nilton Gamba, curador do projeto ANTROPOCRUZO e professor da PUC-Rio, “a união das dimensões pedagógicas com as documentações é algo muito importante. Um desfile de escola de samba são muitas coisas, há muito conceito e muita pesquisa em todas as etapas”.
A mostra está em cartaz na Saphira & Ventura Gallery, 4W 43 Street, NY-NY.
Daniela Safadi
Assessora de Imprensa
Crédito Foto:Divulgação
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