Acadêmicos do Tucuruvi Releases Synopsis of Its 2026 Carnival Theme

A Acadêmicos do Tucuruvi divulgou a sinopse do seu enredo para o carnaval de 2026. A agremiação tem como tema para o próximo desfile “Anti-Herói Brasil”, assinado pelo carnavalesco Nícolas Gonçalves e pelo enredista Cleiton Almeida.

Para os interessados em participar da disputa de samba, o carnavalesco e o enredista farão uma live nas redes sociais da agremiação explanando o enredo e tirando todas as dúvidas. A transmissão acontecerá nesta quarta-feira, 11 de junho, às 20h30 pelo Instagram @academicosdotucuruvi.

Confira abaixo a sinopse:

ANTI-HERÓI BRASIL

SINOPSE

Brasil, alguma hora entre a primeira faísca e a última gota.

Noite de lua cheia. Temperatura indeterminada.

Cruzamento entre as ruas da glória e da amargura. Sem número. (1ª instância)

O desafio foi lançado: o veneno ou a cura? A palavra ou o não dito? A luz ou a sombra? O cachimbo ou a flauta? Ser herói ou vilão? O Senhor do Corpo irrompe a lógica dualista e abre caminhos: é preciso de uma terceira cabaça! Eis a energia exusíaca que, ao misturar e sacudir, faz com que os opostos possam coexistir no mesmo ser. Ao fazer da encruzilhada seu domínio, ensina que não há uma direção única: inventa-se a vida pelos desvios, pelos dribles, pelas curvas.

Laroyê! Da cabaça de Igbá Ketá, propaga-se a voz ancestral de um estado de vida que desafia a presença do Estado. Sim, há um Estado que toma para si o poder da força e há uma voz que não se comporta nos padrões estabelecidos. Uma voz que não se deixa ser controlada ou regulada. Uma voz anti-heroica! Na esquina em que a desigualdade corta a humanidade, o anti-herói é concebido para assentar suas práticas que desorganizam e ordenam a realidade.

Valente manifesto! Ao andar pelas ruas, vigiadas e vigilantes, a voz anti-heroica puxa coro em levante. Ecoa em cantos para ocupar o espaço público mesmo sob perseguição, com todos os olhos voltados para si, dizendo-lhe ser criminosa. Para fazer da rua terreiro, essa voz transgrediu leis, esquivou-se de normas, revidou a violência. No cruzo onde a noite atravessa o prazer, a voz se fez malandragem brasileira, enredada pela negra pele, pela pobre posição e pela periférica situação.

Brava atitude! Essa voz aflorada é a sabedoria oralizada pela poética das margens, dos que foram desamparados pela central-cidade e afastados para nunca reverberarem. Ledo engano! As mãos do controle não podiam deter a poderosa comunicação do boca a boca. Sob a melodia de Enugbarijó, da Boca Coletiva, a condição marginal tornou-se altiva. Todo um arsenal de lábias e gírias foi criado e transmitido como legado dos que lutaram para fazer a conversa de bar ser aula, a vida se tornar escola.

Glórias aos mestres! Os marginalizados fizeram do corpo um texto vivo, compilado de páginas da história que ginga com dinamismo. Um salve à voz repercutida nos encantamentos de Zés e Marias, que diante da opressão e do silenciamento, mantiveram seus ideais desobedientes no fio da navalha. O poder de se adaptar é a especialidade da voz que se tornou o coração da identidade nacional. E no “tum-tum”, essa voz segue a palpitar!

Ponto de cruzamento entre as páginas dos corpos e as páginas das estantes. Horário comercial. (2ª instância)

Em sussurros, ouve-se as necessidades do brasileiro e seus atos errantes, tortuosos, desviantes. Quando veio a civilidade, pessoas foram jogadas para debaixo do tapete. Afinal, quem as notaria? Escondidas do mundo, em silêncio, passariam a não existir. Mas essa voz abafada emite ruídos pela literatura ao fazer do cotidiano poesia.

Ouve-se um “trac, trac! trec, trec”! É o som enferrujado da máquina que legisla baseada em preconceitos. Desafiá-la requer burlar seus princípios e desativar suas leis de funcionamento. O ar que sai dos pulmões recusa ser programado para só dizer “sim, sim”, porque seu recurso mais potente é a palavra. Com diferentes nomes e histórias, a voz brasileira foi sendo balbuciada com linguagem anti-heroica.

“Vruuuum”, o avanço industrial toma conta das ruas! O som da garganta resiste no sempre será, no sempre serão. Ora, ora pro nobis de uma voz com as marcas da falta de um abrigo, que sem o afeto familiar vai capitanear entre a poeira e a areia. Ela pega carona com o vento de um canto para o outro, em busca de alguma esperança de que chegue a hora de seus sonhos, numa migração de mãos dadas com a morte e a vida. Nos atalhos encontrados, se envereda com seu bando à espreita da sorte e busca nunca estar na solidão que mata de dor.

E quando preciso, retumba como ataque para se defender. E quando é o caso, compadece com malícia para se saciar, porque a cobra coral já morde a cauda, sendo a fome e a comida. E quando perdida, acredita no milagre porque se tem fé na proteção de todos os deuses e de todos os guias. E quando quer vadear, faz murmurinho em mesa de bar, vira o copo sem pensar na saideira e cai no gosto da boemia.

É uma voz que se faz corpo na liberdade sensual que não dá ouvidos às queixas dos olhares. É um gemido de prazer ao desfrutar do sexo. É a ousadia de um beijo que dá língua ao afeto que não se deixa censurar.

É o desejo de que a cultura popular salve a pátria. Voz utópica que nos liga.

“Trimmmm-trimmmm”, caiu a ligação! A voz anti-heroica desbrava todas as regiões, se lança na lama e vira constelação porque a missão exige estar em constante metamorfose para ser a cara do país. A cidade moderna é uma máquina de motor capital que consome a energia da massa às cinco horas na avenida Central e depois empilha os restos por aí como se a vida fosse descartável. Essa engrenagem se retroalimenta de pessoas que se sacrificam na jornada do dia a dia e que são vistas como animais a serem abatidos. A metrópole é uma indústria que fabrica marginalidade como efeito colateral. Nesse campo de batalhas sem rimas, a voz marginal é heroica no improviso para lançar o verso que denuncia a podridão desse mercado.

No cruzamento das ruas do passado com as ruas do futuro, o relógio marca a hora: agora. (3ª instância)

Uma urgência é sentida no ar. Brasil, mostre a sua voz! O desabafo de uma legião de anônimos quebra com o silêncio do status quo. Ouve-se um clamor que retoma as ruas pela boca coletiva de trabalhadores que estão em deslocamento o tempo todo. Entre a Augusta e a Angélica, multiplica-se um grito que dá a mão na Consolação. No fluxo ordinário, essa voz se expressa pelos semáforos, em parques e praças. Percorre quadras, campos e ginásios. Trafega por calçadas, vias e viadutos. Circula por obras, passagens e edifícios. Transita de lá pra cá, da Leste pra Oeste, da Sul pra Norte, riscando o asfalto e cantando pneus pra sustentar um filho e uma nação. Seguem com ambição porque, apesar de tudo, o tempo não para e o corre é mil grau. Mas nos respiros dessa escala, as ruas são ocupadas por gargalhadas que mostram que a vida não é só trabalho. Em meio às contradições, o riso tromba com a alegria na maior atividade e se faz comunidade.

Aparecendo na fotografia somente do outro lado da vida, os heróis dessa história não são os mais corajosos, os grandes campeões, os super-heróis midiáticos que só existem na tela. Pelo contrário, são aqueles que erram, que caem, que perdem, mas que continuam bradando o seu direito à humanidade. Aqueles cuja fala é um perigo para a hipocrisia social e por isso são julgados e condenados. Consagrada seja a voz dos que incomodam, inquietam, subvertem, radicalizam, retrabalham e revolucionam a ordem operante e a “pasta” do progresso.

Encruzilhada entre as ruas da criação e da realidade. Hora exata em que da periferia ecoa uma reforma: “Seja marginal, seja herói”! Na reconstrução, tudo que era resto passa a ser início, a obra do futuro é feita da matéria do passado. Na terceira cabaça, nossa gente vira nossas estrelas. Na Avenida, quem leva o país nas costas recebe os devidos louros pelo canto da Cantareira. Na voz eternizada, reverbera o nosso ato heroico.

Que toda hegemonia seja questionada.

Que toda imposição seja superada.

Que toda convenção seja transgredida.

Anti-heróis brasileiros, uni-vos!

Credito FOTO

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Acadêmicos do Tucuruvi Releases Synopsis of Its 2026 Carnival Theme

The samba school Acadêmicos do Tucuruvi has revealed the synopsis of its theme for the 2026 Carnival. The theme for the next parade is “Anti-Hero Brazil,” created by carnavalesco Nícolas Gonçalves and enredista Cleiton Almeida.

For those interested in participating in the samba competition, the carnavalesco and the enredista will hold a live session on the school’s social media to explain the theme and answer all questions. The broadcast will take place on Wednesday, June 11, at 8:30 p.m. on Instagram @academicosdotucuruvi.

Below is the synopsis:

ANTI-HERO BRAZIL
SYNOPSIS

Brazil, sometime between the first spark and the last drop.

Full moon night. Indeterminate temperature.

Intersection of Glory Street and Bitterness Street. No number. (1st instance)

The challenge has been set: poison or cure? The spoken word or the unspoken? Light or shadow? The pipe or the flute? To be hero or villain? The Lord of the Body breaks dualistic logic and opens new paths: a third gourd is needed! This is the exu energy that, by mixing and shaking, allows opposites to coexist within the same being. Making the crossroads its domain, it teaches that there is no single direction: life is invented through detours, feints, and curves.

Laroyê! From the gourd of Igbá Ketá spreads the ancestral voice of a way of life that challenges the presence of the State. Yes, there is a State that claims the power of force, and there is a voice that refuses to fit established norms. A voice that cannot be controlled or regulated. An anti-heroic voice! At the corner where inequality cuts humanity, the anti-hero is born to settle practices that disrupt and reorder reality.

Brave manifesto! Walking through watched and watchful streets, the anti-heroic voice leads a chorus in uprising. It echoes in chants to occupy public space even under persecution, with all eyes on it, being called criminal. To turn the street into a gathering place, this voice broke laws, dodged rules, and fought back violence. At the crossroads where night meets pleasure, the voice became Brazilian trickery, entangled in black skin, poor status, and peripheral condition.

Bold attitude! This voice that surfaced is wisdom spoken through the poetics of the margins, of those abandoned by the central city and silenced from reverberating again. A big mistake! The hands of control could not stop the powerful communication of word of mouth. Under the melody of Enugbarijó, by Boca Coletiva, the marginal condition became proud. An arsenal of slang and expressions was created and passed on as a legacy of those who fought to turn bar talk into lessons, life into school.

Glory to the masters! The marginalized made the body a living text, compiled from pages of history that swing dynamically. A salute to the voice echoed in the charms of Zés and Marias, who, in the face of oppression and silence, kept their rebellious ideals on the edge. The power to adapt is the specialty of the voice that became the heart of national identity. And in the “tum-tum,” this voice continues to beat!

Crossroads between the pages of bodies and the pages of shelves. Business hours. (2nd instance)

In whispers, one hears the needs of Brazilians and their errant, tortuous, deviant acts. When civility arrived, people were swept under the rug. After all, who would notice them? Hidden from the world, in silence, they would cease to exist. But this muffled voice emits noise through literature by turning daily life into poetry.

One hears a “trac, trac! trec, trec”! It is the rusty sound of a machine legislating based on prejudice. Challenging it requires bending its principles and disabling its operating laws. The air leaving the lungs refuses to be programmed to say only “yes, yes,” because its strongest resource is the word. With different names and stories, the Brazilian voice was babbled with anti-heroic language.

“Vruuuum,” the industrial advance takes over the streets! The throat’s sound resists in the “always will be.” Oh, oh, pro nobis of a voice marked by homelessness, which without family affection will captain itself between dust and sand. It hitchhikes with the wind from one place to another, searching for hope that the time of its dreams will come, migrating hand in hand with death and life. On the shortcuts found, it ventures with its pack, lurking for luck and seeking never to be in the loneliness that kills with pain.

And when necessary, it roars to defend itself. And when appropriate, it shows cunning to satisfy itself, because the coral snake already bites its tail, being both hunger and food. And when lost, it believes in miracles because it has faith in the protection of all gods and guides. And when it wants to wander, it murmurs at the bar table, flips the glass without thinking about the last drink, and falls in love with bohemia.

It is a voice that becomes body in sensual freedom that does not heed the complaints of glances. It is a moan of pleasure enjoying sex. It is the boldness of a kiss that tongues the affection that refuses censorship.

It is the desire that popular culture saves the homeland. Utopian voice that connects us.

“Trimmmm-trimmmm,” the call dropped! The anti-heroic voice explores all regions, plunges into the mud, and becomes a constellation because the mission demands constant metamorphosis to be the face of the country. The modern city is a capitalist engine that consumes the energy of the masses at five o’clock on Central Avenue and then piles up the leftovers as if life were disposable. This mechanism feeds on people who sacrifice themselves daily and are seen as animals to be slaughtered. The metropolis is an industry that manufactures marginality as a side effect. In this battlefield without rhyme, the marginal voice is heroic in improvisation to cast the verse that exposes the rot of this market.

At the crossroads of past and future streets, the clock shows the hour: now. (3rd instance)

Urgency is felt in the air. Brazil, show your voice! The outcry of a legion of anonymous people breaks the silence of the status quo. A cry is heard that reclaims the streets through the collective voice of workers who are constantly on the move. Between Augusta and Angélica, a shout multiplies, holding hands at Consolação. In the ordinary flow, this voice expresses itself through traffic lights, parks, and squares. It crosses blocks, fields, and gymnasiums. It travels sidewalks, streets, and overpasses. It circulates through construction sites, passages, and buildings. It goes back and forth, from East to West, from South to North, cutting the asphalt and singing tires to support a child and a nation. They move forward ambitiously because, despite everything, time does not stop and the hustle is intense. But in the pauses of this rhythm, the streets are filled with laughter showing that life is not only work. Amid contradictions, laughter collides with joy in the greatest activity and becomes community.

Appearing in the photograph only on the other side of life, the heroes of this story are not the bravest, the great champions, or the media superheroes who only exist on screens. On the contrary, they are those who fail, fall, lose, but keep shouting their right to humanity. Those whose words threaten social hypocrisy and are therefore judged and condemned. Blessed be the voice of those who disturb, unsettle, subvert, radicalize, rework, and revolutionize the current order and the “folder” of progress.

Crossroads between the streets of creation and reality. The exact time when from the periphery echoes a reform: “Be marginal, be a hero!” In reconstruction, all that was left becomes a beginning, the work of the future is made from the material of the past. In the third gourd, our people become our stars. On the Avenue, those who carry the country on their backs receive due honors through the song of Cantareira. In the eternalized voice, our heroic act reverberates.

May all hegemony be questioned.

May all impositions be overcome.

May all conventions be transgressed.

Brazilian anti-heroes, unite!

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