Arthur Bispo do Rosário é o enredo da Acadêmicos do Cubango para o carnaval de 2018

Arthur Bispo do Rosário é o enredo da Acadêmicos do Cubango para o carnaval de 2018

 

Batido o martelo! “O Rei que bordou o mundo” é o título do enredo que a Acadêmicos do Cubango levará para a Sapucaí, em 2018. A narrativa dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora falará da vida e da obra de Arthur Bispo do Rosário.

 

A nova diretoria da escola já havia anunciado, na noite do sorteio da posição de desfile, que o enredo sobre os 200 anos de Nova Friburgo estava em suspenso, uma vez que as negociações com a cidade não apresentavam avanços. Finalmente, optou-se por um enredo autoral dos jovens carnavalescos, que explicaram a proposta:

 

-O enredo vem preencher uma lacuna importante. Nós sabemos que Arthur Bispo do Rosário já apareceu em alguns desfiles, inclusive na própria Cubango (2010 e 2013), mas sempre de forma genérica. Via de regra, o Bispo aparece como um personagem entre muitos, ilustrando a relação entre arte e loucura, o que não é o foco da nossa proposta. O público sabe da existência dele, mas poucos conhecem a sua história de vida e mesmo a sua obra, que é extremamente profunda. Falaremos da peregrinação que o levou a “inventariar o mundo”, dos folguedos regionais do Sergipe, dos símbolos que ele mais utilizava nas peças, e também do fato de que ele é um personagem negro e marginalizado que precisa entrar, de vez, no mapa das escolas de samba – defendeu Haddad.

 

Para Leonardo Bora, o enredo tem forte identificação com a Acadêmicos do Cubango e possibilitará um visual diferenciado:

 

-Contra a tão debatida crise é preciso criatividade e ousadia. E este enredo nos oferece as duas coisas. Eu pesquiso a obra do Bispo desde 2010, nas mais variadas áreas: literatura, teatro, cinema, dança, artes plásticas, psicanálise, estudos culturais, filosofia, moda. Em 2012, eu e Gabriel Haddad fomos à Bienal de São Paulo (Bispo do Rosário foi o artista homenageado daquela edição) e pudemos observar a obra dele em diálogo com artistas contemporâneos do mundo inteiro. Na época eu escrevia um ensaio que comparava o trabalho do Bispo com um conto de Guimarães Rosa, “Cara-de-Bronze”. É impressionante perceber o quanto é uma obra densa e coesa, que deixou nomes como Louise Bourgeois boquiabertos. Lá, em 2012, tivemos o estalo: como nenhuma escola de samba ainda não apresentou um enredo inteiro sobre o Bispo do Rosário? É uma ideia antiga, portanto, que estava há cinco anos na gaveta. Agora chegou o momento, a nossa estreia na Série A. E será ótimo desenvolver essa narrativa na Cubango, que tem um histórico de enredos sobre diferentes facetas da afro-brasilidade, as religiosidades de matriz popular, o ato de escrever e bordar palavras, que é o símbolo da escola.

 

A proposta visual diferenciada já se faz notar no cartaz do enredo, que reinterpreta a bússola-mandala do Manto da Apresentação, a mais conhecida peça confeccionada por Bispo do Rosário. Segundo os carnavalescos, era importante que a “logomarca” dialogasse com a linguagem estética do homenageado, valorizando o trabalho manual. Justamente por isso, os letreiros foram bordados a mão pela mãe do carnavalesco Leonardo Bora, Ana Maria.

 

-Tudo o que está na logo passou pelas mãos de alguém. As tramas, os botões costurados, os bordados. O cartaz do enredo é o espírito da nossa proposta –  finalizou Haddad.

 

Em breve, será divulgada a data da entrega da sinopse aos compositores. A Cubango será a quinta escola a desfilar no sábado de carnaval de 2018.

 

Paula Ranieri

Jornalista / Radialista

Analista de Mídias Sociais

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