Mocidade Independente – Preparação do primeiro casal
Diogo e Cristiane têm rotina de atletas em busca da nota máxima
O desfile das escolas de samba é dividido em dez quesitos. A grande maioria deles tem a responsabilidade por nota dividida entre muitas pessoas. Há um líder, mas o bom funcionamento do conjunto depende da eficácia de vários auxiliares e os demais componentes. Um quesito, porém, passa quase que exclusivamente pelo rendimento de uma dupla. Os 30 pontos do casal de mestre-sala e porta-bandeira são tão importantes para uma escola de samba como os de qualquer um dos outros nove quesitos. Sabedora disso, a Mocidade Independente de Padre Miguel contratou Bonifácio Junior para coreografar e servir como gerente da preparação do primeiro casal da agremiação.
E a rotina de Diogo Jesus e Cristiane Caldas, detentores do pavilhão principal independente, não tem sido nada fácil. Bonifácio tem estilo de trabalho peculiar e que vem dando resultado nos últimos anos. Atualmente são dois treinos semanais, e um período considerável deles é voltado para a parte física. Quem passa pela praia de Copacabana, mais precisamente em frente ao Copacabana Palace, pode presenciar a dupla ‘’ralando’’.
– Hoje busco fazer com que acreditem que são bailarinos-atletas. E nesse contexto a preparação física é primordial. Temos o que chamamos de fatores internos e externos. Fatores internos: desespero, medo, angústia, ansiedade e etc. Externos: chuva, calor, vento, frio, o peso da fantasia… Então o trabalho de fortalecimento físico os deixa preparados também mentalmente para encarar esses desafios. A Mocidade mesmo desfilou embaixo de chuva no último carnaval. Uma fantasia pode até chegar a 40 quilos com esse sobrepeso. Trabalhamos também a respiração. Quem sabe respirar consegue desenvolver o seu rendimento de forma muito melhor – explica Bonifácio, que é podólogo e já foi seminarista.
Toda a série de exercícios executada por Diogo e Cristiane foi idealizada a partir de consultoria com profissional de educação física. Bonifácio garante que nunca teve problemas de lesão com os profissionais que já trabalhou. Com o passar dos meses, os treinos vão ficando cada vez mais intensos e frequentes ao longo da semana. O coreógrafo ressalta que os treinos físicos só cessam a duas semanas do desfile.
– O corpo humano é uma máquina. Se você desliga demora um pouco para retomar o nível inicial. Começo cedo para terminar cedo. Me assusta ensaiar três vezes na semana do carnaval. Só programo um ensaio para a quarta-feira anterior ao desfile, e o casal não dança, faz apenas uma marcação. Até duas semanas antes do desfile eu mantenho o treino pesado. Quero esse corpo ativo, ligado! Muitas vezes acontece de sairmos direto da praia para a Marquês de Sapucaí ensaiar. Com a vinda da Cristiane temos duas preocupações. A primeira é fazer o casamento dela com o Diogo. Não é simplesmente colocar a bandeira e girar. A escola quer uma resposta imediata. A sociedade do carnaval também, mas isso não é tão simples. Acontece de forma gradativa. Treinamos de 45 a 60 minutos de treino pesado e depois emendamos com a parte coreográfica.
Como tudo que envolve um competidor, o lado emocional é de suma importância para o alcance do objetivo final. Bonifácio usa bastante esse aspecto quando o assunto é avaliar as justificativas do carnaval passado. A ideia é que Diogo e Cristiane não tenham o stress de se perder tentando se achar. De qualquer forma, a proposta de uma dança livre para o casal da Mocidade vai ao caminho apontado pelos julgadores no Carnaval 2015.
– O meu papel é afastar das mentes deles os fantasmas produzidos. É tudo muito subjetivo. Não é fácil olhar uma justificativa e saber que ali dentro o jurado tinha razão, mas é ainda mais difícil olhar para o casal e ver que eles estavam fazendo de tudo, dando a alma para acertar. Estamos atentos ao que os nossos mestres falam e os pequenos erros que foram apontados tentaremos aparar. Não trabalho com letra do samba. Vamos trabalhar com contagem rítmica. Temos 70% do ato já pronto para o desfile. Os outros 30% serão completados após a escolha do samba. Fatos importantes da letra serão pontuados, mas nada com coreografia. Temos a preocupação de buscar uma dança livre. O nosso casal será aplaudido pela forma simples de sua dança. A Estrela de Padre Miguel vai voltar a brilhar – projeta.
A valorização profissional de Bonifácio Junior chega exatamente dez anos depois de seu início no carnaval. Oriundo de outro ramo de atuação, o coreógrafo não esconde que ainda é alvo de algumas críticas relativas ás suas práticas de trabalho. Partindo da vestimenta, passando pelo comportamento e terminando na forma de comando, Boni explica sua forma de ser:
– Quando comecei na Rocinha, em 2006, fui chicoteado. Os apresentadores de casais naquele período vestiam camisa da escola. Por ser professor de etiqueta, formado na área de cerimonial, entendi que aquele momento era de grande importância para a escola. Quando eu coloquei o terno pela primeira vez várias pessoas falaram que eu queria aparecer mais que o casal. Quem já trabalhou comigo sabe que sou um cara chato, que cobra, e que tenho responsabilidade de buscar o resultado para a escola. Me assusto quando alguém faz um elogio ao meu trabalho. Estou aprendendo e admirando o quesito. Acredito que ninguém é nota 10. O casal está nota 10. Então a preocupação é trabalhar para manter ou alcançar esse objetivo. Me sinto muito satisfeito quando vejo o sorriso da minha diretoria. O nosso casal se apresentou apenas quatro vezes na quadra, mas já vejo uma satisfação nas pessoas da escola.
Quinta agremiação a desfilar no domingo de folia, a Mocidade levará para a Avenida o enredo ‘’O Brasil de La Mancha: sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, sou Quixote cavaleiro, Pixote brasileiro’’. O tema será desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada e o diretor artístico Édson Pereira.
Foto: Eduardo Hollanda
Rodrigo Coutinho
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